A idéia deste blog é promover a reflexão crítica sobre temas de política, economia, sociologia e estudos estratégicos. O propósito é que o visitante do blog, por meio da leitura de artigos curtos, tenha uma leitura diferente daquela encontrada nos principais periódicos de mídia.
Acredita-se que Evo Morales constitui umfator de desestabilização na Bolívia e na América do Sul. Entretanto, eleito com 53,7% dos votosemdezembro de 2004, Morales acaba de ser referendado pormais de 67% dos eleitoresque o confirmaram no cargo, emumprocessocujacorreção e legitimidade foram ressaltadas pelosobservadoresinternacionais e pelaOrganização dos EstadosAmericanos (OEA). Portanto, o veredicto do própriopovo boliviano parece contrastarcomaquele conferido a Evo pelo senso-comum brasileiro e atémesmoporparcelas da mídianacional.
Mais do que Evo e seugoverno, o que está emquestão é a existência do Estado Boliviano. Desta perspectiva, o fator de desestabilização vem dos separatistas. A secessão é protagonizada pelachamadaregião da MeiaLua, que concentra os departamentos de Pando, Beni, Tarija e SantaCruz de la Sierra e é responsávelpor 80% do PIB boliviano, quasedoisterços do território e cerca de 58% dos dezmilhões de bolivianos. É de Tarija que vem quase 90% do gás consumido pelas indústrias brasileiras, especialmente a paulista. Além de sediar a segundamaiorreserva de gás da América do Sul, a regiãotambém detém importantesrecursosmadeireiros e uma pujanteprodução de soja, quecontacomsignificativa participação de produtoresbrasileiros. Trata-se de uma verdadeira “rebelião de elites”.
Aindaque a elite da região da MeiaLua possua umdesejohistórico de autonomia, de mais de décadas, com a chegada de Morales ao poder intensificou-se o choque de projetosnacionais na Bolívia. Evo tornou-se o primeiroindígena a alcançar a Presidência, eleito combaseem uma agenda de conteúdofortementeantiliberal, o que incluía a promoção de setoressociais tradicionalmente excluídos. Assim, no início de seugoverno, a nacionalização do setor de hidrocarbonetos gerou nãosóatritoscom o governobrasileiromastambém colocou emdireçõesdiametralmente opostas o governo boliviano e a elite autonômica.
O gás é recursoestratégicoparaque a elite da MeiaLua possa adequar a ambiçãoeconômica à representaçãopolítica. É assimque surgem as chamadas “economias de enclave” que, nostermosjá descritos pelo sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, correspondem a setoresexportadoresque permanecem alheios às outras atividades econômicas do país e desligam-se do desenvolvimentonacional. Como se não bastasse, Evo redirecionou parte do IDH, ImpostoDiretosobreHidrocarbonetos, o qualgarantia aos departamentos 32% sobre a produção do gás. O recurso passou a ser destinado a uma políticapúblicachamadaRenta Dignidad, pelaqual os bolivianos maiores de 60 anos passaram a receber uma rendamensalvitalícia.
Sem o gás, torna-se inviávelumEstado “Camba”, como se denominam os habitantes da porçãooriental do país. Mais do queisso, sem o reconhecimentoexterno, o separatismonãopassa de meraforça conspiratória. Recentemente, na reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), novepresidentessul-americanos documentaram seuapoio à constitucionalidade do governo Evo Morales e à integridadeterritorial da Bolívia.
É neste contextoque se insere a integraçãosul-americana – a agenda do século XXI – o meioparaatingir as finalidades de cidadania e soberaniaque estiveram ausentesdurante o séculopassado. A unidade da Bolívia e da América do Sulsão duas faces da mesmamoeda. Não se pode esperar dos que defendem a violênciaporprivilégiosque vá nasceralgogeneroso e grandiosocomo a integraçãosul-americana.
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